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terça-feira, 3 de agosto de 2010
sábado, 24 de outubro de 2009
RAUL DE LEONI - 1895 - 1923
Raul de Leoni Ramos, nasceu a 30 de outubro de 1895, em Petrópolis, então capital do Rio de Janeiro.
Era filho do jurista baiano Carolino de Leoni Ramos, deputado estadual, e de D.Augusta Villaboim de Leoni Ramos. Tinha dois irmãos mais velhos, Pedro e Maria Augusta e sua infância foi no ambiente seguro e provinciano da elite política fluminense, que desde a Revolta da Armada, em 1891, refugiara-se nos bons ares da cidade imperial, na tranquila Serra dos Órgãos.
Sua casa era frequentada por alguns dos maiores líderes do Estado, sobretudo pelos mais jovens como Nilo Peçanha e Alberto Torres.
A sua poesia embora contenha formas antigas e clássicas, é caracterizada por um imperecível espírito de modernidade, o que lhe assegura compreensão ilimitada e aperiódica, e o introduz na seleta plêiade dos poetas imortais.
Para melhor entendimento sobre a poesia de Raul de Leôni é preciso voltar ao século passado, precisamente em 1922, quando publicou o seu livro clássico "Luz Mediterrânea", onde está a essência da sua poesia, (grande parte em sonetos decassílabos) no meio da "explosão" do modernismo no Brasil.
Argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...
Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...
É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)
Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...
Raul de Leoni
(Segundo Agrippino Grieco este soneto "todo brasileiro deveria saber de cor".)
Seu pai, Dr.Leoni Ramos era ligado ao grupo de políticos mais dinâmicos, na maioria bacharéis em Direito, de mentalidade cosmopolita e liberal, que pretendiam tirar o Estado da letargia, mas não deixavam de estar ligados a poderosas facções oligárquicas em disputa pelo poder.
Em 1898 o Dr. Leoni Ramos deixa a Assembleia Legislativa para assumir o cargo de chefe de polícia do Estado do Rio
Unidade
Deitando os olhos sobre a perspectiva
Das cousas, surpreendo em cada qual
Uma simples imagem fugitiva
Da infinita harmonia universal
Uma revelação vaga e parcial
De tudo existe em cada coisa viva:
Na corrente do Bem ou na do Mal
Tudo tem uma vida evocativa.
Nada é inútil; dos homens aos insetos
Vão-se estendendo todos os aspectos
Que a idéia da existência pode ter;
Em todos esses seres incompletos
A completa noção de um mesmo ser...
Raul de Leoni
Em 1906 o Dr Leoni Ramos torna-se prefeito de Niterói e a família passou a morar num doa aristocráticos casarões da Praia de Icaraí - 185 e essa mudança permitiu que Raul de Leoni entrasse em contato com um ritmo de vida mais agitado, numa cidade maior e mais aberta.
E como nao poderia deixar de ser, foi logo matriculado no Colégio Abílio quee ducava os filhos da elite.
Para a Vertigem
Alma em teu delirante desalinho,
Crês que te moves espontaneamente,
Quando és na Vida um simples rodamoinho,
Formado dos encontros da torrente!
Moves-te porque ficas no caminho
Por onde as cousas passam, diariamente:
Não é o Moinho que anda, é a água corrente
Que faz, passando, circular o Moinho...
Por isso, deves sempre conservar-te
Nas confluências do Mundo errante e vário.
Entre forças que vem de toda parte.
A espiral, cujo giro imaginário
É apenas a Ilusão do Movimento!...
Raul de Leoni
Família Leoni Ramos
Em 910, Raul de Leoni ingressa no Colégio São Vicente de Paulo, em Petrópolis, como aluno interno, estabelecimento de ensino mais aristocrático do país, que funcionava no antigo palacio imperial e era dirigido pelos padre premonstratenses, onde completou o secundário e prestou seu tributo ao catolicismo da mãe, fazendo sua primeira comunhão.
Com a posse do marechal Hermes da Fonseca na Presidência, apoiado por Nilo Peçanha, o Dr. Leoni Ramos é nomeado para o Supremo Tribunal Federal
Decadência
Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente.
Nenhuma outra intenção, mas, simplesmente
O hábito melancólico de ser...
Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...
Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!...
Raul de Leoni
De um fantasma
Na minha vida fluida de fantasma
Sou tão leve que quase nem me sinto.
Nem há nada mais leve nem tão leve.
Sou mais leve do que a euforia de um anjo,
Mais leve do que a sombra de uma sombra
Refletida no espelho da Ilusão.
Nenhuma brutal lei do Universo sensível
Atua e pesa e nem de longe influi
Sobre o meu ser vago, difuso, esquivo
E no éter sereníssimo flutuo
Com a doce sutileza imponderável
De uma essência ideal que se volatiza...
Passo através das cousas mais sensíveis
E as cousas que atravesso nem se sentem,
Porque na minha plástica sutil
Tenho a delicadeza transcendente
Da luz, que flui través os corpos transparentes.
Sou quase imaterial como uma idéia...
Tantos e variadíssimos estados
Eu sou o estado-alma, quer dizer
O último estado rarefeito, o estado ideal:
Alma, o estado divino da matéria!...
Raul de Leoni
Cristianismo
Sonho um cristianismo singular
Cheio de amor divino e de prazer humano;
O Horto de Mágoas sob um céu virgiliano,
A beatitude com mais luz e com mais ar...
Um pequeno mosteiro em meio de um pomar,
Entre loureiros-rosa e vinhas de todo o ano.
Num misticismo lírico, a sonhar
Na orla florida e azul de um lago italiano...
Um cristianismo sem renúncia e sem martírios,
Sem a pureza melancólica dos lírios.
Temperado na graça natural...
Onde a Tristeza fosse um pecado venial,
Onde a Virtude não precisasse ser triste...
Raul de Leoni
Ingratidão
E em meu velho quintal, ao sol-nascente,
Plantei, com a minha mão ingênua e mansa,
Uma linda amendoeira adolescente.
Era a mais rútila e íntima esperança...
Cresceu... cresceu... e aos poucos, suavemente,
Pendeu os ramos sobre um muro em frente
E foi frutificar na vizinhança...
Daí por diante, pela vida inteira,
Todas as grandes árvores que em minhas
Terras, num sonho esplêndido semeio,
Como aquela magnífica amendoeira,
E florescem nas chácaras vizinhas
E vão dar frutos no pomar alheio...
Raul de Leoni